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Família em pânico: Como lidar com a dependência química


Faz algum tempo, recebi esta carta endereçada à seção 100 dúvidas, da revista Vida e Saúde: “Tenho uma enteada de 25 anos de idade que é dependente de drogas, mas nega sempre. Parou de estudar, já gastou todo o dinheiro que tinha, perdeu o trabalho por causa da droga. Ela ainda mora com meus pais e está trazendo muitos problemas para eles. Minha mãe não sabe o que fazer. Meu pai está muito estressado. Parece que toda a família está entrando em colapso por causa dela. Como fazer para ajudá-la? O que devemos fazer como família?” A resposta, transcrita a seguir, também pode ser útil para outras famílias que lidam com problema semelhante:

Dependentes químicos mentem muito. Fazem isso quase sempre, de forma a parecer verdade o que dizem. Mas evidências e possíveis comprovações podem desmascará-los e mostrar a verdade. Como familiar, duvide do que eles dizem, porque um dependente químico mente para enganar-se, enganar os demais e permanecer na droga. As mentiras fazem parte da doença que destrói, além do corpo, o caráter. Dependência química é doença e precisa ser tratada. Não é brincadeira de fim-de-semana.

Características da dependência

1- Tolerância. O dependente precisa de mais quantidade da mesma substância para obter os mesmos efeitos, ou da acentuada diminuição dos efeitos mediante o uso contínuo da mesma quantidade da droga.

2- Síndrome de abstinência. O dependente sente mal-estar quando pára de usar a droga (forte ansiedade, agitação, náuseas, vômitos, insônia, dor, depressão etc.).

3- Obsessão. Para adquirir a droga, o dependente faz coisas absurdas como roubar, gastar exageradamente, entrar em dívidas (até com os traficantes).

4- Exagero. A substância é usada em grandes quantidades e por um tempo maior do que o desejado.

5- Isolamento. Devido ao uso da substância, o dependente reduz ou abandona atividades profissionais, recreacionais e sociais.

Grupos de ajuda mútua para adictos às drogas, como os Narcóticos Anônimos, dizem que todo drogado irá cair em um dos três Cs: Clínica, Cadeia ou Cemitério. Isso é verdade e realidade, geralmente.

Infelizmente, a maioria dos adictos, durante um período que pode ser até longo, rejeita ajuda, nega o problema, até que chega ao fundo do poço, o qual pode ser a perda de tudo: do emprego, dos estudos, do(a) namorado(a), noivo(a) ou esposo(a), da moral, prisão, falência financeira, overdose com alto risco de morte, perda de bons amigos, crédito etc.

A família deve ser firme e não ceder em nenhum tipo de ajuda financeira, para que o indivíduo assuma as conseqüências da decisão de usar a droga. O dependente químico que não quer ajuda, destrói a própria vida e pode acabar com a vida dos que estão ao seu redor, seja financeiramente, com estresse etc.

Há também os três Cs dos familiares do dependente químico:

Primeiro: eu não Causei isto (a dependência); segundo: eu não posso Controlar isto; por último, eu não posso Curar isto.

É muito importante que todos os membros da família do viciado pensem nisto, entendam o problema e tomem a firme posição de não assumir a responsabilidade pela sobriedade dele. O dependente é quem tem que tomar a decisão de procurar ajuda! Se a família assumir todas as responsabilidades pelo dependente, o viciado irá, provavelmente, manipulá-la. Como assumir tudo? Pagando as dívidas do dependente, pagando fiança para tirá-lo da prisão, comprando roupas, pagando o aluguel, a mensalidade da escola, repondo a mesada etc., visto que todo o dinheiro dele é gasto com a droga.

Nenhuma pessoa tem poder para fazer um dependente químico deixar de usar um tipo qualquer de droga. Isso é decisão da pessoa. Ela é que precisa reconhecer o problema e procurar ajuda. Se o indivíduo for levado a se tratar à força, ele até poderá ser internado em regime fechado e ficar lá um tempo. Mas é muito provável que, assim que sair da reclusão, volte a usar a droga. Alguns recaem no mesmo dia em que saíram da clínica, porque não estavam internados por decisão pessoal e não mudaram os pensamentos obsessivos quanto ao desejo e decisão de usar a droga durante o tratamento.

A recaída após internação compulsória ocorrerá a menos que haja mudança radical na mente do adicto. Isso tem que ver com admitir o problema e aceitar o tratamento voluntariamente. Internamento em clínica especializada sem a concordância e a decisão dele, provavelmente só fará com que haja perda de dinheiro, assim como de tempo e mão-de-obra gasta para conseguir isso.

É importante que os pais não se esgotem, até pelo amor que sentem pela pessoa e pelo desejo de vê-la liberta. Deixar-se esgotar não ajuda em nada no processo de tentar ajudar o dependente.

Recomendo grupos de ajuda mútua para os familiares, tais como o Nar-Anon, que é o grupo de ajuda para amigos e familiares de dependentes químicos. Eles possuem ótimas informações para ajudar o familiar ou amigo, a saber como lidar com a situação, tanto através de literatura especializada  como através de suas esclarecedoras reuniões.

Se o dependente aceitar ir às reuniões do grupo, que poderia ser os Narcóticos Anônimos, ou mesmo Alcoólicos Anônimos, ou similar, poderá ser um ótimo início de recuperação que poderá trazer resultados estáveis e duradouros.

A experiência dos profissionais que trabalham com dependência química mostra que o sucesso é alcançado somente quando a pessoa aceita o tratamento voluntariamente. Mesmo assim, o processo é difícil e tem muitas recaídas.

Impondo limites Não forçar o dependente a se tratar não é o mesmo que deixar que ele faça o que quiser com a família, ou seja, morar na casa dos pais sem trabalhar, sem se tratar, só dando despesas, quem sabe roubando objetos ou dinheiro para adquirir a droga, perturbando a paz da família. Talvez até oferecendo risco para a própria segurança da família devido às ameaças de traficantes em caso de dívidas, más companhias etc.

A família deve por um limite firme e decidido para não ser manipulada. Não é justo permitir que o dependente permaneça em casa, perturbando a todos com o problema da droga sem aceitar tratamento. Às vezes, a colocação de limites tem que ser drástica, dura mesmo. Pode doer o coração, mas tem que ser assim. Em muitos casos, impor limites firmes é a única forma de a pessoa afinal aceitar o tratamento. Muitas vezes, isso só acontece depois, infelizmente, de cair no fundo do poço, ou não.

Limite firme significa não poder sair à hora que quiser e voltar à hora que quiser e seguir as ordens dos donos da casa onde mora. Se não quiser obedecer, tem que sair daquela casa e assumir a própria vida. Estamos falando de pessoas adultas. Recomendo que conversem com outros familiares com experiência no problema, para compartilharem com vocês o que eles têm aprendido e que pode ser de extrema utilidade e encorajamento para a situação atual.

Deve ser oferecida à pessoa, a possibilidade de tratar-se e ela deve escolher. Se fizer a escolha séria para tratamento, a família deve dar todo o apoio necessário. Se o dependente permanecer negando, a família deve impor  limites, embora permaneça amando a pessoa. O amor tem que ser firme. Amar sem colocar limites para abuso como esse é permissividade, não é amor. E a permissividade não ajuda ninguém.

Ficar firme e confiar em Deus também faz parte do processo. Deus quer libertar a pessoa drogada, mas ela tem que cooperar. Deus não usa a força para curar quem não quer ser curado. Ele convida, e se a pessoa aceita a Sua ajuda, Ele manifesta Seu magnífico poder para libertar, usando os instrumentos que achar melhor.

Mas a pessoa tem que escolher a ajuda dos familiares e de Deus livremente, espontaneamente. E entregar seu problema, sua vontade, sua vida aos Seus cuidados, um dia de cada vez. E a cura brotará. Encerro com estas palavras bíblicas: “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e o mais Ele fará.” Salmo 37:5.

César Vasconcellos de Souza é psiquiatra e consultor médico da revista Vida e Saúde

Que fazer para ajudar um drogado?

  1. Contar aos pais dele. Isso deve ser feito não como vingança mas para ajudar. Se for feito como resultado de brigas e desentendimentos, a raiva pode influenciar os pais que, conseqüentemente, acabarão não enfrentando a situação com amor.
2. Dar carinho e amor. Pessoas que se drogam são muito carentes e, para elas, carinho e amor são essenciais. Contudo, é preciso oferecer principalmente boa educação, mostrando o que são responsabilidade, honestidade, justiça, gratidão, autopreservação, solidariedade. Carinho e amor devem ser transmitidos ao drogado como uma forma de autopreservação. Ele precisa saber que seu corpo é único e deve ser bem cuidado.
3. Ter uma estratégia. É importante conhecer a situação e fazer um diagnóstico: qual é a droga usada? Há quanto tempo a pessoa vive no vício? Qual é a freqüência de uso? Em que quantidade? De que maneira a droga é usada e como é adquirida? Não é fácil fazer essas perguntas e dificilmente o usuário se sente à vontade para respondê-las. Em tal situação, o pai fica bravo e agressivo, enquanto a mãe se deprime, tem crises de choro, sente-se culpada. Apesar do envolvimento emocional, é preciso manter um diálogo tranqüilo. Se for impossível, procure a ajuda de uma terceira pessoa, que se sinta livre e preparada para colaborar (psicólogo, psiquiatra ou assistente social).
4. Saber o que dizer. Sempre que puder, insista com a pessoa para não usar drogas. Fale seriamente e diga-lhe como é difícil conversar com ela quando está drogada. Esclareça que o prazer da droga é químico e não traduz valores interiores. 5. Saber os motivos que levam uma pessoa a se drogar. Há diversas razões: Provar a segurança própria, curiosidade, incapacidade de enfrentar problemas,  excesso de confiança em si mesmo, ser aceito pelo grupo que usa drogas,  mudar o jeito de ser, acabar com a solidão ou apenas ocupar o tempo.

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